Casal português ajuda mulheres sírias a gerarem renda familiar através do tricô

Entre agulhas e afeto. Tricotando e gerando renda. Pelas mãos das mulheres sírias e vontade de ajudar de Tiago Ferreira, repórter de imagem da TVI que esteve três semanas na Síria, nasceu um projeto que pode ajudar mais de uma dezena de famílias.

A excelente ideia partiu do casal português Natacha Lopes e Tiago Ferreira, que viu a guerra de perto e, ao invés das lamentações, eles resolveram ajudar os mais afetados pela destruição e criaram o Projeto Qara.

O projeto foi implantado num local onde Tiago tirou algumas fotos para seu trabalho como repórter, o mosteiro ‘Saint James the Mutilated’, em Qara, uma pequena vila nas montanhas sírias que não escapou ao flagelo da guerra.

O nome Qara

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

Foi inspirado no lugar. Uma aldeia síria junto à fronteira com o Líbano que não escapou à guerra. Os que ali ficaram, lutam todos os dias para continuar vivo. Foi nessa pequena vila que Tiago Ferreira, o repórter de imagem da TVI que atravessou a Síria de Sul a Norte, “tropeçou” num grupo de mulheres que fazia das linhas e das agulhas a esperança possível.

Num mosteiro onde os monges e as freiras organizam a distribuição de ajuda humanitária pela região, o ‘Saint James the Mutilated’, conheceu Elsa Marku, uma albanesa que ensinou essas mulheres a criar peças de roupa.

Essa ocupação ajudava-as a não estar paradas, a despreocupar-se com a guerra que as cercava e a tentar que tivessem uma fonte de rendimento. Ele contou: “Achei curioso e comprei algumas coisas para mim, para trazer para a minha família. Comprei inclusive umas luvas porque estava cheio de frio lá”, contou Tiago Ferreira, com 39 anos e uma vasta experiência em cenários de guerra.

Tricotando e gerando renda

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

“Entretanto, elas pediram-me para trazer uma encomenda para a irmã de uma freira portuguesa que estava lá no mosteiro e eu disse que não me importava nada de trazer para Portugal. Depois sugeri que me dessem mais algumas peças para eu vender aos meus amigos e ajudar de alguma forma.”

Quando chegou a Portugal, depois de três semanas na Síria, Tiago vendeu algumas dessas peças a colegas, amigos e família. Depois, publicou no Facebook uma fotografia dos artigos que tinham sobrado.

“A minha mulher partilhou essa fotografia. A Elsa, na Síria, sem eu perceber muito bem como, começou a falar com ela, sem eu saber de nada, e quando cheguei a casa, a minha mulher já tinha criado a página.”

Motivação

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

O que motivou o casal foi o fato de deixar de serem espectadores passivos para realmente agir em prol de quem luta diariamente pela sobrevivência.

Tiago conta: “O tricô feito por elas chamou a atenção de Natacha, para Tiago levar para Portugal o artesanato produzido por aquelas mulheres. O resultado foi bastante positivo. Então, em contato com uma voluntária do mosteiro, conseguiu fazer uma ponte para que as vendas crescessem. Sempre que algum deles vai para a Europa, trazem consigo alguma encomenda.”

Muitas histórias e sonhos para contar

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

Ele acrescenta: “Os trabalhos que daqui saem não nos chegam através de fotografias bonitas do Pinterest a que os nossos sentidos já se habituaram. Mas são bonitos, aconchegantes e reais. E trazem consigo histórias que as nossas realidades nunca conseguirão imaginar. São metros e metros de lã com muitas histórias e sonhos para contar”. (Página do Facebook)

Segundo Tiago, por meio de compras e de doações, o projeto já ajudou a produção a crescer. As primeiras peças resultaram em 150 euros, valor que chegou às cinco famílias, acrescentadas ao mosteiro, que viviam com cerca de 40 ou 50 dólares por mês, caso haja algum homem no papel de provedor. Parece pouco dinheiro, mas cada centavo faz a diferença, seja na alimentação ou na compra de material escolar para as crianças.

Uma forma de ajudar

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

“As pessoas andam há tanto tempo a ouvir falar desta tragédia humanitária e agora arranjaram esta forma de ajudar. É uma forma à escala, muito pequena, mas muito concreta. É uma coisa muito direta e é a forma que conseguimos de os ajudar”, enfatiza.

Tiago e a mulher, Natacha, são quem gere a página e as vendas do projeto, recebendo os pagamentos e fazendo as entregas. A forma como vão conseguindo repor o stock, é pedindo nova encomenda de cada vez que sabem de alguém na Síria que vem para a Europa.

Eles mantêm, ainda assim, o contacto com Elsa e com as mulheres sírias, cuja identidade é importante proteger. “Na altura em que lá estive, estavam a ajudar dez famílias, mas por causa desta “brincadeira”, já conseguiram pôr mais cinco famílias a trabalhar”, conta. “As mulheres estão a trabalhar a tempo inteiro, já estão a conseguir estar motivadas e nós, deste lado, fazemos o que podemos.”

Sobrevivendo e aprendendo

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

No mosteiro onde estas mulheres tricotam, é normal se ouvirem disparos e bombardeamentos.

“Estamos a falar de uma aldeia que fica dentro de uma zona militar fechada, juntos a umas montanhas a que chamam ‘montanhas anti-Líbano’. Fica a nordeste de Damasco. É uma zona de acesso condicionado, não é qualquer pessoa que pode passar, porque a própria aldeia foi atacada e o mosteiro fica à saída da aldeia e está cercado de artilharia”, descreve Tiago. 

“Nós estamos habituados a ver os grandes centros urbanos completamente destruídos e esquecemo-nos que não é só isso, há outras zonas mais pequenas, mais rurais, que também passam por muitas dificuldades, nomeadamente nas coisas mais simples e mais básicas como o acesso à eletricidade por exemplo. Nós chegamos a ter um dia em que tivemos apenas 20 minutos ou meia hora de luz. As pessoas aprendem a viver com isso.” conta.

“E num sítio onde não há quase nada, quase tudo faz falta.”

Das palavras aos atos

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

Tiago salienta: “Eu acho que o nosso trabalho, às vezes, acaba quando a peça vai para o ar. Passamos por muitas necessidades e dificuldades e quando a peça vai para o ar tudo se esfumaça e tudo se dilui. Passamos para o tema seguinte”.

Ele salienta. “Eu tenho alguma experiência neste tipo de cenários e tento sempre fazer mais alguma coisa, ajudar algumas pessoas com quem me vou cruzando. Esta é uma coisa pequenina, mas que eu acho que é muito honesta e muito válida. Tem dado trabalho, mas não é nada comparado com aquilo que aquelas pessoas estão a passar. E é muito gratificante passar das palavras aos atos.”

Entre agulhas e afeto

Projeto Qara. Foto: Divulgação | Reprodução

 

Tricotando e gerando renda. Entre agulhas e afeto, o que se vê é muito amor, disponibilidade e solidariedade. As mulheres que participam acabam aquecendo as portuguesas com suas luvas, vestidos, casacos, toucas e boinas feitas à mão. E as mulheres sírias conseguem sobreviver e produzir artesanato em meio a uma zona de conflito.

“Mas o nobre projeta coisas nobres; e nas coisas nobres persistirá.” (Isaías 32:8)

Projeto Qara. Agradecimento das mulheres sírias. Foto: Divulgação | Reprodução

 Com informações: Razões para acreditar / Tvi24

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