Escritor carioca Thiago Scarlata lança seu primeiro livro de poemas

Os acordes da canção ensaiavam o desenho dos poemas. Escrita é vivência e imersão. “Eu sento, rodeado de livros, com meus cadernos de anotações e meio que entro numa vibe poética”, explicou o escritor Thiago Scarlata. Nascido no Rio de Janeiro, o carioca estreia na literatura com o seu primeiro livro de poemas, intitulado “Quando não olhamos o relógio, ele faz o que quer com o tempo”.

O olhar também foi filtro para a obra do poeta, escritor e músico. “Trabalhei por muitos anos na área administrativa, que exigia que eu andasse muito pelas ruas do Centro do Rio, o que foi gerou muita matéria-prima para minha poesia”, contou.

Técnico em Informática e estudante de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Thiago Scarlata é integrante da banda “O Velho Se Foi” e criador do Blog Literário Croqui. O Conexão Boas Notícias conversou com o artista sobre poesia, literatura, criação e música.

Como começou o seu percurso na poesia, seus primeiros versos, influências?

O autor que me influenciou a começar a escrever poesia foi o Mário Quintana. Na época, minha mãe trabalhava numa escola primária e foi presenteada com o Poesia Completa dele, através de um extinto projeto cultural do Governo do Estado. Eu já lia romance, isso lá em 2009, mas nunca tinha entrado em contato com poesia de fato. Inclusive, o homenageei no meu livro com uma sequência de versos. Realmente, ele foi uma grande referência.

Foto: Isabel Dias/Reprodução

Seus poemas já foram publicados em revistas e em outros projetos. Como é ver seu trabalho reunido em livro?

Na verdade, quando eu comecei a publicar alguns poemas em revistas, já tinha o livro pronto e aprovado na editora. Foi tudo muito rápido. Mandei o primeiro original em novembro do ano passado, e nesse meio tempo, fui divulgando alguns poemas do livro, já com a autorização da editora, em alguns veículos literários.

Mas é claro, a experiência de ver seu primeiro livro impresso é única. Nada se compara ao tato, a coisa física, materializada em suas mãos. A satisfação de você poder compartilhar o resultado de um processo que foi maturando ao longo de anos com outras pessoas.

O título do seu livro é “Quando não olhamos o relógio, ele faz o que quer com o tempo”. De que forma o tempo está presente nos seus poemas e qual o peso dele na sua vida?

Assim como muita gente, minha experiência com o tempo começou a realmente pesar, a partir do contato com a morte de alguém próximo, e no meu caso, isso se deu após a morte de meus avós, aos quais eu tinha um contato muito intenso, já que morávamos no mesmo endereço

Eu era muito jovem quando meu avô faleceu, apesar de lembrar de muita coisa, de sua voz, das aulas de matemática que tinha com ele, enfim, mas já no caso da minha avó, isso ocorreu em 2014. É bem evidente a presença deles na obra.

Como o livro é fruto de um processo que durou quase 10 anos, as nuances biográficas ficaram bem presentes. É um livro bem urbano. Trabalhei por muitos anos na área administrativa, que exigia que eu andasse muito pelas ruas do Centro do Rio, o que foi gerou muita matéria-prima para minha poesia.

Tem algum poema no livro que represente algo especial para você ou que seja significativo desse momento de estreia da sua primeira publicação?

Cada um tem sua importância, porém, acredito que o que congrega melhor todo o punch do livro, é o poema Cinzeiro. Antes de mandar o original para as editoras, o usei como referência quando o mostrei para outros poetas darem ou não o aval. Foi a partir dele que tive coragem em levar adiante a minha primeira publicação.

Algum escritor ou poeta inspira as temáticas dos seus versos e/ou a sua escrita?

Além do Quintana, um autor que me influenciou bastante foi o Kafka. Há outros como Bruno Schulz, Herman Hesse, Saramago e da nova geração, o escritor paulista Evandro Affonso Ferreira e o poeta gaúcho Diego Grando. Mas com certeza a leitura que me afetou completamente foi a de Kafka. Mesmo não sendo poeta, o peso de sua ficção é algo absolutamente incrível.

Foto: Reprodução

De que forma nasce a sua poesia?

Acho que não há uma forma fixa. O Ferreira Gullar dizia que ele não conseguia escrever poesia por encomenda, por exemplo, pois é um processo mais imersivo do que prosa. Eu vou mais ou menos por essa linha. Minha poesia nasce tanto das observações que faço de situações do cotidiano, quanto a partir da leitura de um livro, ou de estalos absolutamente aleatórios.

Atualmente estou escrevendo meu segundo livro, que já está praticamente pronto. É a primeira vez que passo por uma situação de ter que “escrever correndo”, pois há um prazo para a inscrição do inédito em um edital. Antes eu achava que essa situação seria muito negativa para a minha poesia, mas acredito que o resultado está caminhando bem.

Eu sento, rodeado de livros, com meus cadernos de anotações e meio que entro numa vibe poética. Tem dias que, nesse método, escrevo um poema, no máximo, nem sempre publicável, mas em outros, a coisa flui muito melhor, de uma forma mais natural e fluida. Aí, saio descartando os poemas que não ficaram tão bons, tentando nivelar por cima. Acho que uma série de fatores influem para, em alguns dias, você ficar “mais inspirado” do que em outros, mas são coisas nas quais não temos o menor controle.

Foto: Reprodução

Também é músico. Como é a sua relação com esse outro universo?

Lido com música há muito mais tempo de que com literatura. Acho que o desejo em compor arte já estava lá. Antes da poesia, ficava com meu violão criando músicas instrumentais, influência dos três anos de aulas de violão clássico. Hoje isso permanece, porém não em um formato individual e acústico. Na minha banda, “O Velho Se Foi”, geralmente a composição das músicas, também instrumentais, ocorre em conjunto com o guitarrista Antonio Vilela, meu amigo de infância. Eu tenho uma ideia, ele complementa, eu estico, ele dá o acabamento e nós finalizamos a música, por exemplo. É algo muito livre, uma experiência diferente de qualquer outra coisa como, inclusive, a escrita de um poema.

Contatos

Blog: http://croquitts.blogspot.com.br/

Facebook: https://www.facebook.com/scarlataliteratura/

E-mail: scarlatatts@gmail.com

Telefone: (21) 96962-2336


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias 

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