Cantor paraibano lança álbum inspirado na África

Continente berço. Cadência dos tambores. Movimento rítmico de corpos. Cores de um povo culturalmente diverso e étnico. Uma África reverenciada em um canto paraibano. “Essa África me dá força para lutar e entender a vida. E ainda me ensina a dançar, cantar e mergulhar na vida”, diz o músico Adeildo Vieira.

O artista lança neste fim de semana (12 e 13), no Theatro Santa Roza, às 21h, o seu mais novo trabalho, África de Mim”.

Foto: Arquivo Pessoal

Nascido numa cidade de poetas, em 1962, Adeildo Vieira dos Santos mudou-se para João Pessoa aos 15 anos de idade. O primeiro contato com a música foi através do rádio, ainda em Itabaiana. Já na capital, aproximou-se do violão. No bairro de Jaguaribe, teve a influência dos músicos Pedro Osmar e Paulo Ró.

Integrou o projeto Musiclube da Paraíba e apresentou canções premiadas em festivais. “Manus Manus”, “Cara de Santo”, “Há Braços” e “Amorério” são algumas das músicas do repertório do artista com mais de trinta anos de carreira.

Adeildo é formado e mestre em Jornalismo. O compositor conversou com o Conexão Boas Notícias sobre sua trajetória e o seu mais recente disco.

Que África é essa cantada neste novo trabalho?

É a África que concebo dentro de meus referencias estéticos, culturais e políticos. A África que me ensinou sobre dignidade, festa, luta e força de viver. A África que me bota para dançar e que me faz exaltar as diferenças que caracterizam a humanidade. A África que me bota nos trilhos da vida, na aventura de viver. A África que me faz gostar ainda mais do Brasil através do legado daqueles que aqui vieram na condição de escravos, mas, mesmo assim, deixaram traços culturais que compõem a identidade brasileira.

Como o “África de Mim” foi pensado e executado?

Foto. Arquivo Pessoal

Eu sempre fui encantado com a música africana e quem tem meus CDs anteriores percebem isso. Mas depois que viajei ao Senegal com o projeto Berimbaobab, em 2012, junto com a Tribo Ethnos e artistas franceses e senegaleses, voltei com uma vontade imensa de fazer um CD temático que exaltasse meu amor pela África e pela cultura africana.

Daí, fui buscar umas músicas que estavam no baú, outras compus para este trabalho, incluindo aí uma canção que aprendemos no Senegal chamada Bapalaye, que no CD tem a participação de Joel Basène, que nos ensinou.

Também pensei num patrono para este CD, alguém que fosse daqui e que sintetizasse a africanidade e a dignidade na luta de viver, que gostasse de festa e ainda mergulhasse na vida com graça e afeto. E esse cara é o nosso saudoso ativista político e social, fundador do movimento negro da Paraíba, João Balulam, falecido em fevereiro de 2008.

A sua trajetória é marcada por parcerias com outros artistas, nas composições e nos palcos. O que representa essa partilha com outros músicos?

É um privilégio para mim poder ornamentar com sons os poemas de grandes poetas paraibanos como Lúcio Lins (in memoriam), Águia Mendes, Chico Lino Filho, Ronaldo Monte de Almeida, Acilino Madeira, Fernando Moura, entre tantos outros. Unir essas expressões estéticas – letra e música – é sempre um risco, mas que felizmente, no meu caso, sempre resultaram em parcerias felizes. Além do mais, sou pela união das pessoas, dentro e fora dos palcos.

Foto: Adeildo Vieira/Arquivo Pessoal

No repertório da nova geração de músicos paraibanos tem sempre canções suas. Como é ser referência para esses novos artistas?

Sinto que a música produzida na Paraíba continua avançando. A cena está trazendo muita competência, gente estudando música, se relacionando como estúdio cedo, com instrumentos de qualidade. Nossa cena é muito plural e bonita. Tem surgido grandes intérpretes, músicos e letristas.

Quando vejo que essa cena se manifesta por esses jovens se referenciando também por pessoas que tem uma história de luta, de trabalho de mais de 30 anos como é o meu caso e do pessoal do Musiclube da Paraíba – entidade que me formou e a companheiros como Milton Dornellas, Escurinho, Chico César, Pedro Osmar, Paulo Ró, Roberto Araújo e tantos outros.

Quando vejo que essas pessoas chegam não só do ponto de vista estético, mas do ponto de vista de se posicionar diante da realidade, quando eles cantam a gente, eles trazem toda essa carga histórica de estéticas, de pensamentos, de ideias e de luta. Eu sou muito feliz porque em algum momento os companheiros novos têm cantado as minhas canções que são feitas, geralmente, para dar um recado a vida. Minhas canções elas têm um propósito de falar alguma coisa para alguém ou para ‘alguéns’.

Canta a favor do uso da maconha para fins medicinais e em outras causas e movimentos. A música ainda é uma forma de ativismo?

Entendo a música como uma forma da gente se relacionar com a vida, de buscar as nossas reflexões, nossa felicidade. Quando temos uma vida comprometida com alguma mudança da realidade em favor das coisas boas, buscando coisas dignas, a nossa arte, na minha concepção, precisa estar levando esse discurso.

O meu trabalho tem propositura de trazer não só alegria pelo viés da poesia, mas reflexões para vida também. Por muitas vezes a minha música também serve de ‘trilha sonora’ de movimentos. A minha postura é a de querer algo melhor para vida, para a dignidade humana e a minha música ela vem como um discurso cantado.

Muitas vezes ela está presente em manifestações em que eu acho que valem a pena. O que eu não faço é colocar minha música tocando em ambientes em que esses valores não sejam propagados. Quando eu toco, gosto que tenha dignidade no palco, nos bastidores e na plateia. Eu acho que a arte é a coisa mais nobre que a gente tem para oferecer.

Defendeu dissertação de mestrado com um livro-reportagem sobre o maestro Chiquito. Como foi mergulhar na vida e obra do músico?

Tenho formação de graduação jornalística desde 1988, mas nunca fui militante de jornalismo. Nunca trabalhei o jornal. Terminei o curso e fui fazer outras coisas no campo da música. Mas acabei fazendo o Mestrado Profissional em Jornalismo. Eu optei como trabalho final um livro-reportagem sobre o maestro Chiquito, no qual aliei minha condição de jornalista e a minha paixão pela música.

Foto: Arquivo Pessoal

O maestro Chiquito é de Santa Luzia e fundou na Paraíba uma big band, a Metalúrgica Filipéia, em 1984. Pelas mãos dele já passaram centenas de músicos através dessa orquestra, na qual ele funcionou quase como um professor e se tornou uma figura muito emblemática, mas que não tem o devido reconhecimento.

Mergulhei na vida e obra do maestro, não para fazer uma biografia, mas um perfil em profundidade. Eu contei uma história dele que justificam a formação do maestro, do professor do ativista cultural que ele é hoje. Para mim foi um grande prazer fazer isso.

O livro foi lançado virtualmente pelo Laboratório de Jornalismo e Editoração da universidade, sob a coordenação do professor Pedro Nunes. Agora vou lutar para publicá-lo em impresso. Quero que ele figure nas prateleiras das bibliotecas municipais, estaduais, sobretudo naquela região do sertão onde ele nasceu.

 

Para ouvir “África de Mim”:

https://www.youtube.com/watch?v=l3RWZPXdM48&t=298s  

Serviços:

Local: Theatro Santa Roza

Dias: 12 e 13 de maio de 2017

Horário: 21h

Ingressos à venda:

Camaritus – Delícias do Mar – R. Claudino Pereira, 51 – Brisamar

Popótamus Buffet – Av. João Câncio da Silva – Manaíra

Lojas Furtacor (Shoppings MAG, Sul e Tambiá).

R$ 30,00 Inteira / R$ 15,00 Meia


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias

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