Festival Folclórico de Parintins: da lenda ao espetáculo

As filas davam voltas no Centro Cultural e Esportivo Amazonino Mendes, no Amazonas, região Norte do Brasil. Conhecido como Bumbódromo, durante três noites, a arena é palco da disputa entre os bois Caprichoso e Garantido. A 52º edição do Festival Folclórico de Parintins levou mais de 35 mil pessoas por dia ao local das apresentações e atraiu mais de 70 mil turistas.

Na ilha localizada a 369 km de Manaus, o azul e o vermelho dividiram a população. O boi Garantido estreou a primeira noite (30) do evento com a temática “Magia e Fascínio no Coração da Amazônia”. Do coração, o boi vermelho apareceu e uma grande floresta encantada foi retratada em uma alegoria móvel e cheia de expressões.

Chegada da Rainha do Folclore do boi Garantido. Foto: Joel Arthus/Secom

O Caprichoso tomou o Bumbódromo com um espetáculo que trouxe a influência da cultura cabocla e números de ilusionismo com Issao Imamura. O boi azul levou para arena alegorias gigantes e uma representação do Cine Teatro Brasil de Parintins, parte da temática “Poética do Imaginário Caboclo”.

A segunda noite (1) começou com um mergulho na história da origem do Caprichoso. Uma das alegorias retratou a lenda de Dom Sebastião, rei de Portugal, monarca que foi ao Marrocos converter os mouros ao cristianismo e desapareceu misteriosamente. Nas noites de lua cheia, o português surge como boi com uma estrela brilhante na testa, na praia dos Lençóis, no Maranhão, segundo conta a lenda.

Lenda de Dom Sebastião trazida pelo boi Caprichoso. Foto: Bianca Paiva/Agência Brasil

O Garantido se apresentou na arena em defesa da cultura do boi bumbá amazônico. Com o tema “Folclore e a resistência cultural”, o grupo levou para o Bumbódromo a toada clássica “Lamento de Raça”, junto com a grandiosa alegoria do boi vermelho.

Uma representação de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade, a encenação de um ritual dos indígenas Karajá e flechas disparadas durante a apresentação do boi Garantido marcaram a terceira e última noite (2) do festival. O boi vermelhou levou a temática “Amazônia, esperança e fé”. O grupo buscou chamar atenção para a luta pela preservação da floresta.

Nossa Senhora do Carmo, representada pelo boi Garantido. Foto: A Crítica/Reprodução

De fé e valorização da cultura também se vestiu o boi Caprichoso. Destaque para a alegoria em homenagem aos artesãos navais de Parintins, maior símbolo da cidade, além da interpretação da música “Nossa Senhora”, em referência a Catedral de Nossa Senhora do Carmo. O boi azul até levitou na arena, erguido por um guindaste.

Anúncio do vencedor

Grupo do boi Caprichoso comemora vitória. Foto: A Crítica/Reprodução

Depois das apresentações, o momento mais aguardado foi o da apuração. O grande vencedor só foi conhecido na segunda-feira (3). Com o tema “A poética do Imaginário Caboclo”, o boi-bumbá Caprichoso venceu o 52º Festival Folclórico de Parintins. Esse é o 22ª título conquistado pelo boi azul.

Os jurados que avaliaram as apresentações observaram 21 itens, entre individuais e coletivos, distribuídos entre blocos artístico, cênico, coreográfico e musical.

Uma tradição amazônica

Levantadores de todas dos bois Caprichoso e Garantido. Foto: Reprodução

As primeiras apresentações dos bois Caprichoso e Garantido aconteceram em 1966. A disputa tem como base o Auto do Boi, história popular da região Nordeste. Com o ciclo da borracha, a lenda migrou junto com os nordestinos para a Amazônia e se adaptou ao contexto do novo lugar.

Hoje o espetáculo das cores vermelha e azul é uma das principais manifestações populares da região amazônica. Toda a apresentação gira em da lenda de Pai Francisco e Mãe Catirina.

Sinhazinha da Fazenda do boi Caprichoso. Foto: A Crítica/Reprodução

Grávida, a mulher teve o desejo de comer a língua do Boi. O homem foi atrás do boi mais bonito da fazenda. Como o boi morto era o favorito do fazendeiro e de sua filha, o peão pediu ajuda de um pajé para ressuscitar o animal e assim não se tornar um criminoso.

Cada apresentação dos bois reúne cerca de 600 brincantes. Os grupos folclóricos levam para arena através de alegorias e elementos, rituais, personagens da lenda, as toadas, além dos bois Caprichoso e Garantido.

Sebastião Júnior, levantador de toadas, iniciando o ritual do Pajé. Foto: A Crítica/Reprodução

O Festival Folclórico de Parintins é realizado no último fim de semana de junho. Ao longo dos anos o evento se consagrou como uma manifestação cultural que representa os povos indígenas e o homem ribeirinho do Norte do Brasil.

Com informações: Agência Brasil / G1 / A Crítica / Wikipédia

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