Aos 80 anos, japonesa vai cursar 1ª faculdade em Roraima

Chigusa Tsukuda foi aprovada para o curso de geografia na Universidade Estadual de Roraima (UERR); ela obteve vaga por meio de programa que garante ingresso de pessoas com mais de 50 anos.

Aos 80 anos, a japonesa Chigusa Tsukuda vai ter a primeira experiência com uma faculdade em 2020 porque passou no vestibular da Universidade Estadual de Roraima (UERR).

Aprovada por meio do programa “Idade Ativa”, que garante vagas no ensino superior para pessoas acima dos 50 anos, ela vai cursar licenciatura em geografia.

“Vai ser minha primeira faculdade, porque quando era mais jovem tive que cuidar dos meus pais, que ficaram doentes. Eu era a mais velha dos três filhos e precisei trabalhar”, conta.

Natural do Japão, ela chegou ao Brasil aos 15 anos, em 1954, quando seu pai decidiu fugir dos efeitos econômicos causados pela guerra sino-japonesa que iniciou em 1937 e durou até 1945.

Por meio de um acordo entre os governos do Japão e do Brasil, a família de Tsukuda foi primeiro para Santarém, no Pará, e depois a Roraima, que na época ainda era Território Federal do Rio Branco.

“Quando chegamos aqui minha mãe teve um problema nos dentes, arrancou todos e ficou com a saúde debilitada. Depois, meu pai foi diagnosticado com câncer”.

Agora aprovada para o curso de geografia ela ainda sonha em cursar sistemas de informação para melhorar a operação do comércio que sua família possui no Centro de Boa Vista. “Eu não esperava entrar e quando passei comemorei, agora vou estudar”.

Programa Idade ativa

Turma do Idade Ativa que se forma no próxima dia 14 de dezembro e a coordenadora Jussara Barbosa. Foto: Fabrício Araújo | G1 RR

Desde 2018, a UERR adotou o programa Idade Ativa que abre 45 vagas por ano e dá acesso a aulas de inglês e espanhol básico, nutrição e saúde, psicologia do envelhecimento, redação e gramática, todas ministradas por voluntários.

“A ideia é que estas pessoas que estão iniciando o projeto de aposentadoria voltem à universidade para atividades acadêmicas e invistam em pesquisa ou recomecem em uma nova profissão”, contou Jussara Barbosa, psicopedagoga e coordenadora do projeto.

O vestibular da UERR conta com 23 cursos e cada um possui uma vaga reservada para pessoas que concluíram o Idade Ativa. Em caso de dois ou mais concorrerem a mesma vaga, a disputa pela cota é feita através da nota. A coordenadora do projeto destaca que não basta ter mais de 50 anos para concorrer à vaga, é necessário ter concluído o programa.

Neste ano, seis alunos do projeto garantiram vagas nos cursos de nível superior da UERR. Desde que o programa iniciou em 2018, nove participantes já conseguiram ser aprovados no vestibular.

Também é o caso do professor de filosofia Paulo Rogério Lustosa, de 55 anos, que está se aposentando e passou para medicina.

Com a experiência de vida, tranquilidade e estabilidade que aposentadoria vai lhe proporcionar, ele pretende fazer o curso com uma visão “mais humana”, com mais cuidado.

“Agora já tenho outra cabeça, acredito que vou conseguir fazer bem o curso de medicina. Estou mais disposto a estudar, vou poder me dedicar mais a como tratar pacientes. Vejo que a formação, agora, depois dos 55 anos vai ser muito mais humanizada”, contou.

Formada em ciências contabéis, Maria agora vai encarar o curso de serviço social. Foto: Fabrício Araújo | G1 RR

Aos 63, Maria Monteiro também se prepara para ingressar na segunda graduação. Formada em ciências contábeis aos 44 anos, ela vai encarar no próximo ano o curso de serviço social.

“Minha primeira experiência na graduação foi em universidade federal. A turma era de gente muito jovem, eu tirei de letra e nem me preocupo”, contou Maria.

Nem todas as pessoas que participam do projeto se inscrevem no vestibular, mas uma vez que recebem o certificado podem concorrer as vagas reservadas para quem conclui as aulas do Idade Ativa em qualquer ano e quantas vezes desejarem.

Hebert Pereira do Nascimento, de 54 anos, por exemplo, está quase concluindo o programa, mas ainda não terminou o ensino médio. No entanto, com a possibilidade de ingressar em um vestibular de forma mais simples, pensa em continuar os estudos e cursar medicina veterinária para ajudar a mãe que resgata cachorros de rua ou que sofrem maus-tratos.


Com informações: G1 RR — Boa Vista

Edição: Josy Gomes Murta

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