Artesãos do Piauí usam fibra natural para fazer tapetes e ajudar comunidade

A médica empresária e designer Tereza do Carmo Melo ao olhar o seu quintal percebeu que poderia usar a matéria-prima e as tradições locais para transformar a vida das pessoas no interior do Piauí.

Há 35 anos, ela reuniu artesãos no povoado de Santa Rita para trabalhar com a taboa, uma planta geralmente desprezada que nasce espontaneamente em regiões alagadas, na confecção de tapetes que hoje garantem o sustento de 25 famílias e encantam arquitetos e designers em todo o país.

Na década de 1980, Tereza fazia parte de uma equipe multidisciplinar que trabalhava em um programa de desenvolvimento rural da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “Quando a gente chegou para ver a ração dos porcos, o milho para as galinhas, esbarramos em muitas burocracias. O povo não podia esperar. Nem a terra”, conta Tereza, que se mudou naquela época de Teresina para a comunidade de Santa Rita, onde vive até hoje.

“As pessoas que eu conheci quando criança estavam mal. Os maridos haviam ido embora atrás de trabalho e as terras onde antes se plantava algodão haviam sido divididas. Foi aí que comecei a discutir o conceito de saúde para as pessoas. Aos poucos, a gente foi conversando até que os moradores compreendessem que para ter saúde era preciso ter trabalho, e a partir daí ter acesso aos bens.”

Trapos & Fiapos

Tereza do Carmo Melo, médica sanitarista, empresária e designer criadora da Trapos & Fiapos, no Piauí | Foto: Divulgação

A médica lembrou-se então dos teares que via na infância, dos sons do descaroçador de algodão durante a noite. Rodou a vizinhança atrás do equipamento, que a princípio era feito de madeira rústica, e encontrou alguns teares de ferro.

“Pedi para estagiar em uma oficina de redes e levei mais três pessoas da comunidade comigo. Elas pegaram fácil, a tecelagem estava no sangue. Eu tinha um galinheiro aqui em casa, soltei as galinhas e montei os teares. Foi assim que a empresa começou”, conta ela, sobre o início da Trapos & Fiapos.

Com seis meses de trabalho, a renda dos artesãos dobrou. Começou a aparecer mais gente interessada em entrar no negócio. “Só que tinha um detalhe, os teares eram muito pesados. Aqui todo mundo só conhecia tecelagem feita por mulher. Foi um desafio fazer com que os homens assumissem o trabalho”, diz Tereza.

Enquanto as mulheres ficaram encarregadas do acabamento, os homens não só assumiram o trabalho como também fixaram moradia em Santa Rita, no lugar onde tinham nascido.

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“Muitos artesãos voltaram a estudar e colocaram os filhos para estudar também. Tem filho que é dentista, engenheiro de produção… E as casas, que eram todas de taipa, hoje são de tijolos.”

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Artesãos produzem tapete em tear manual na comunidade de Santa Rita, no Piauí | Foto: Divulgação

Mesmo dominando a técnica e produzindo tapetes de qualidade, a equipe teve dificuldades para comercializar o produto. “Precisávamos olhar para o mercado e foi aí que a Nara [filha de Tereza] entrou na história. Minha inspiração era o local, o cotidiano. Não tinha ideia do que fosse um design. Mas a Nara despertou isso e decidimos fortalecer as nossas raízes, trabalhar a nossa identidade”, diz Tereza. “Para a gente se fortalecer, a gente tem de saber quem a gente é”, completa Nara Melo.

Tem dado certo

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“Nossa matéria-prima sempre foi o ser humano. O tapete nasceu como estratégia.”

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Tapete Táboa – Trapos & Fiapos | Foto: Divulgação
Artesã produz tapetes na fábrica da Trapos & Fiapos, na zona rural de Teresina, Piauí - Divulgação
Artesã produz tapetes na fábrica da Trapos & Fiapos, na zona rural de Teresina, Piauí | Foto: Divulgação


Com informações: Uol

Edição: Josy Gomes Murta


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