Flip 2018: um recorte do mundo de Hilda Hilst

Uma abertura emocionante. Fernanda Montenegro é aplaudida de pé ao fazer homenagem a Hilda Hilst. A Compositora Jocy de Oliveira também participou da sessão que inaugurou a 16ª edição da Flip 2018.

O principal evento internacional dedicado à literatura no Brasil, a Festa Literária Internacional de Paraty começou nesta quarta-feira (25) e segue até domingo (29).  

O arquiteto Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul, responsável pela Flip; recordou que a sessão de abertura da Flip 2018 junta teatro, música e literatura e tem dois atos: primeiro, com Fernanda Montenegro; depois, com a compositora Jocy de Oliveira. Ele lembrou que ambas são da mesma geração de Hilda.

Izabel Cermelli e Mauro Munhoz, da Casa Azul, que organiza a Flip, e a curadora Joselia Aguiar apresentam a versão 2018 da Festa Literária de Paraty. Foto: Reprodução

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“Em sua atuação artística e política, as mulheres dessa geração mudaram a identidade brasileira”, afirmou Munhoz.

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A curadora Joselia Aguiar na abertura da Flip 2018. Foto: Divulgação | Walter Craveiro

Joselia Aguiar, curadora da festa pelo segundo ano seguido, disse que a homenageada da Flip experimentou vários gêneros literários (poesia, prosa, teatro), publicou por editoras pequenas e era conhecida por público restrito. Mas atualmente, uma década e meia após a morte, tem sido cada vez mais assunto de trabalhos acadêmicos e críticas.

Em seguida foi a vez da atriz Fernanda Montenegro, 88 anos, falar ao público presente. Ela esteve por cerca de meia hora no palco. A maior parte do tempo “sentada” diante de uma mesa. Porém, nos minutos finais ela levantou-se.

Fernanda Montenegro lê Hilda Hilst na abertura da Flip 2018. Foto: Walter Craveiro | Divulgação

Emocionada Fernanda leu trechos da obra da escritora Hilda Hilst (1930-2004), homenageada desta edição: 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Trechos como estes, todos da poesia, da prosa ou de entrevistas da homenageada, foram lidos pela atriz:

• “Quero ser lida em profundidade, e não como distração, porque não leio os outros para me distrair, mas para compreender, para me comunicar, não quero ser distraída”;

• “Eu sempre tentei me aproximar do outro, ainda que no decorrer da vida eu tenha tido medo dessa proximidade”;

• “Não é todo mundo que consegue entrar no mundo da poesia”.

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“Maravilhosa Hilda Hilst. Inesgotável Hilda Hilst. Amada Hilda Hilst”, disse Fernanda com a voz embargada.

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Fernanda Montenegro é aplaudida na abertura da Flip 2018. Foto: Walter Craveiro | Divulgação

E pasmem, a última palavra que declamou foi “delicadeza”. Fernanda fez um gesto indicando um abraço, e as luzes apagaram-se. As luzes acenderam-se e novamente a atriz foi ovacionada e aplaudida de pé. O auditório de 500 lugares, todos ocupados.

A abertura da Flip 2018 foi encerrada com dois números musicais compostos da maestrina, compositora e pianista Jocy de Oliveira.

Jocy de Oliveira na abertura da Flip 2018. Foto: Walter Craveiro | Divulgação

Entre as apresentações, ela também falou sobre as relações entre sua obra e a de Hilda Hilst. “Ela nunca precisou se preocupar em ser uma mulher à frente de seu tempo, porque ela foi além de seu tempo”, enfatizou.

Ao falar sobre o poder dos textos da homenageada especialmente entre as leitoras, Jocy de Oliveira, comparou Hilda Hilst com as mulheres. A compositora foi aplaudida, após esta última frase:

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“Nós, mulheres, somos todas Hilda.”

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Flip 2018: um recorte do mundo de Hilda Hilst
Foto: Reprodução

Reúne 33 autores e autoras em seu programa principal –17 mulheres e 16 homens. Os convocados são poetas, romancistas, contistas, ensaístas, historiadores; também atrizes, cineasta, editores, compositores, fotógrafo, performers, slamer, sound designer. Multiculturais, muitos vivem em países diferentes de onde nasceram, tendo passado por outros tantos territórios no decorrer de suas trajetórias.

“Com um programa plural, tentei fazer ano passado um recorte do mundo de Lima Barreto. Com o mesmo programa plural, tento desta vez fazer um recorte do mundo de Hilda Hilst”, declara Joselia Aguiar, que fez a curadoria da edição de 2017 e de 2018.

Primeira mesa da edição de 2018 da Flip. Foto: Divulgação | Walter Craveiro

Além de Fernanda Montenegro e Jocy de Oliveira, presentes na abertura, outros veteranos recebem homenagens em mesas solo, como a grande mestra russa Liudmila Petruchevskaia, ou em mesas em dupla com estreantes, com diálogos que ultrapassam limites de geração: o mestre do conto Sérgio Sant’Anna e um leitor seu, o estreante Gustavo Pacheco; a portuguesa Maria Teresa Horta, um dos grandes nomes da literatura portuguesa no último meio século, e as poetas brasileiras Júlia de Carvalho Hansen e Laura Erber; o americano vencedor do Pulitzer Colson Whitehead e Geovani Martins, que também acaba de lançar o primeiro livro; Franklin Carvalho, já premiado romancista com seu livro de estreia, e a historiadora Thereza Maia, dedicada ao registro da história oral de Paraty.

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“Eu sempre me fascinei com o matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Ele dizia que para resolver seus intricados teoremas era movido apenas pela beleza das equações. 
Na poesia também é assim. É uma espécie de exercício do não dizer, mas que nos dilata de beleza quando acabamos de ler um poema.”
– Hilda Hilst

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Programação da Flip 2018
Flip 2018, ficou lotada a área externa do auditório que exibe num telão (gratuito) a programação do evento, apesar da chuva bem na hora da abertura. Foto: Walter Craveiro | Divulgação

Quarta-feira, 25 de julho

20h | Mesa 1 | Sessão de abertura: Hilda, Fernanda e Jocy

Fernanda Montenegro

Jocy de Oliveira

Três artistas geniais da mesma geração celebram a arte mais transgressora: Hilda Hilst, homenageada da Flip 2018, Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes brasileiras, e Jocy de Oliveira, pioneira na música de vanguarda hoje dedicada à ópera multimídia.

Foto: Reprodução

Quinta-feira, 26 de julho

10h | Mesa 2 | Performance sonora

Gabriela Greeb

Vasco Pimentel

A voz, a escuta e as divagações literárias e existenciais de Hilda Hilst registradas em fitas magnéticas na década de 1970 são apresentadas pela cineasta Gabriela Greeb e o sound designer português Vasco Pimentel.

12h | Mesa 3 | Barco com asas

Júlia de Carvalho Hansen

Laura Erber

Maria Teresa Horta (em vídeo)

Esse diálogo inusitado reúne, por vídeo, um grande nome da poesia de Portugal do último meio século e, em Paraty, duas poetas brasileiras influenciadas pela lírica portuguesa que têm pontos em comum com Hilda Hilst.

15h30 | Mesa 4 | Encontro com livros notáveis

Christopher de Hamel

A religião, a magia, a luxúria e a leitura na época medieval se apresentam nas páginas do Evangelho de Santo Agostinho, do Livro de Kells e de Carmina Burana, comentadas pelo maior especialista do mundo nesses manuscritos.

17h30 | Mesa 5 | Amada vida

Da perda | performancede Bell Puã, slammer pernambucana, a partir de tema de Hilda Hilst.

Djamila Ribeiro

Selva Almada

Uma ficcionista argentina que escreveu sobre histórias reais de feminicídio e uma feminista negra à frente de uma coleção de livros conversam sobre como fazer da literatura um modo de resistir à violência.

20h | Mesa 6 | Animal agonizante

Sergio Sant’Anna

Gustavo Pacheco

Um grande mestre da literatura brasileira que abordou o desejo, a solidão e a morte relembra sua trajetória ao lado de um leitor seu e autor estreante elogiado pela crítica portuguesa com histórias de humanos e outros primatas.

Foto: Reprodução

Sexta-feira, 27 de julho

10h | Mesa 7 | Poeta na torre de capim

Ligia Fonseca Ferreira

Ricardo Domeneck

A falta de leitores e o silêncio da crítica, como reclamava Hilda Hilst: para esse debate, encontram-se a grande especialista no poeta negro Luiz Gama e um poeta e editor atento a nomes ainda fora do cânone, como Hilda Machado, que morreu inédita em livro.

12h | Mesa 8 | Minha casa

Fabio Pusterla

Igiaba Scego

Fazer literatura tendo uma língua comum – o italiano – e diferentes aportes, fronteiras e paisagens geográficas e literárias: nesse diálogo, reúnem-se o poeta de um país poliglota, que é tradutor do português, e uma romancista filha de imigrantes da Somália, que escreveu sobre Caetano Veloso.

15h30 | Mesa 9 | Memórias de porco-espinho

Alain Mabanckou

O absurdo e o riso, Beckett,culturas africanas, escrita criativa e crítica da razão negra: a trajetória e o pensamento de um poeta e romancista franco-congolês premiado se revelam nessa conversa com dois entrevistadores.

17h30 | Mesa 10 | Interdito

Do desejo | performance do escritor e artista visual paulista Ricardo Domeneck a partir detema de Hilda Hilst.

André Aciman

Leila Slimani

O exercício da liberdade de escrever e a escolha de temas tabu ou proibidos – a exemplo do homoerotismo, da sexualidade feminina e da religião —são as questões tratadas nesse diálogo entre dois romancistas, um judeu americano de origem egípcia e uma francesa de origem marroquina.

20h | Mesa 11 | A santa e a serpente

Eliane Robert Moraes

Iara Jamra

A obra de Hilda Hilst em poesia e prosa é vista tanto em sua dimensão corpórea quanto mística por uma ensaísta que atua na fronteira entre a literatura e a filosofia, enquanto são feitas leituras por uma atriz que encarnou a sua personagem mais famosa – Lori Lamby.

Foto: Reprodução

Sábado, 28 de julho 

10h | Mesa 12 | Som e fúria

Jocy de Oliveira

Vasco Pimentel

A escuta e a criação de universos sonoros: para esse diálogo, encontram-se uma das pioneiras da música de vanguarda no país, hoje dedicada à ópera multimídia, e um sound designer português – os dois conhecidos pelo rigor e pelo preciosismo.

12h | Mesa 13 | O poder na alcova

Simon Sebag Montefiore

Historiador britânico best-seller que publicou biografias de Stálin, dos Romanov e, agora, de Catarina, a Grande, conta, nessa conversa com dois entrevistadores, como faz para retratar figuras centrais da política em seus pormenores mais íntimos.

15h30 | Mesa 14 | Obscena, de tão lúcida

Isabela Figueiredo

Juliano Garcia Pessanha

Uma romancista portuguesa nascida em Moçambique que tratou de temas como o racismo e a gordofobia se encontra com um narrador de gênero híbrido e filosófico para discutir a escrita de si, os diários e as memórias, o corpo e o desnudamento.

17h30 | Mesa 15 | Atravessar o sol

Cantares do sem nome | performance do poeta e artista visual maranhense Reuben da Rocha a partir de tema de Hilda Hilst.

Colson Whitehead

Geovani Martins

O americano vencedor do Pulitzer com um romance histórico sobre escravizados que construíram sua rota de fuga se encontra com um estreante que, da favela do Vidigal, inventa com liberdade seu jeito de narrar e usar as palavras.

20h | Mesa 16 | No pomar do incomum

Liudmila Petruchevskáia

Um dos grandes nomes da literatura russa moderna, comparada a Gogol e Poe por seus contos de horror e fantasia que não dispensam o teor político, relembra sua trajetória proibida por décadas no regime stalinista, hoje aclamada de Moscou a Nova Iorque.

Foto: Reprodução

Domingo, 29 de julho

10h | Mesa Zé Kleber | De malassombros

Franklin Carvalho

Thereza Maia

Um narrador do sertão baiano que abordou a mitologia da morte em seu premiado romance de estreia se encontra com uma folclorista que recolheu histórias orais de Paraty, em um diálogo sobre o território e seus encantados. Mesa gratuita.

12h | Mesa 17 | Sessão de encerramento | O escritor e seus múltiplos

Eder Chiodetto

Iara Jamra

Zeca Baleiro

Uma atriz, um compositor e um fotógrafo que fizeram obras baseadas em Hilda Hilst relembram os encontros com a autora, o processo de criação e as marcas que a experiência deixou em suas trajetórias.

15h30 | Mesa 18 | Livro de Cabeceira

Autores da Flip 2018 leem trechos de seus livros preferidos, em uma sessão conduzida por Liz Calder.


Com informações: Flip / G1 

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