Josélio Carneiro lança mais um livro: Rádio Tabajara – Patrimônio Cultural da Paraíba

Nos jornais, a notícia efêmera. Para os personagens que a vivenciaram e as testemunharam, os fatos transformam-se em memória. Jornalista do presente real, Josélio Carneiro também enveredou pelos relatos históricos. Uma visita pelo passado da comunicação, da política e das personalidades da Paraíba. “Creio que herdei de meu pai esse interesse por biografias, autobiografias, livros documentários”, conta.

O jornalista Josélio Carneiro de Araújo nasceu na estação do Sítio Pau-Ferro, na cidade Gurinhém, Agreste Paraibano. É filho do ferroviário João Maria de Araújo e de dona Marina Carneiro de Araújo. Sua trajetória profissional é a de um repórter curioso e de andanças recolhendo histórias pelos 223 municípios da Paraíba.

Nesta segunda-feira (12), às 14h, na Assembleia Legislativa da Paraíba, Josélio Carneiro lança mais um livro, Rádio Tabajara – Patrimônio Cultural da Paraíba, em comemoração aos 80 anos do veículo, completados este ano. O Conexão Boas Notícias conversou com o jornalista sobre a obra, memória e reportagem.

Por que o interesse em escrever memórias?

Meu pai, um ferroviário, gostava de ler memórias e lembro que ele tinha um grande livro capa dura onde transcreveu versos de alguma obra sobre o cangaceiro Lampião. Creio que herdei de meu pai esse interesse por biografias, autobiografias, livros documentários. No meu acervo praticamente não há livros de ficção.

A vida é breve, o tempo curto no dia-a-dia. Priorizo ler relatos de fatos reais. E em meados dos anos 1990 idealizei resgatar um pouco da história da Rádio Tabajara. Ingressei na emissora em janeiro de 1989 e percebi que não havia nada de registro sobre a rádio pioneira da Paraíba. Acredito que quem escreve ou organiza, pesquisa sobre determinado tema ou instituição antiga, presta um serviço às futuras gerações porque está contribuindo com o resgate da memória. De alguma maneira isto é contar alguns fatos do passado.

Já escreveu um livro sobre os 65 anos da Rádio Tabajara e agora um novo livro em comemoração aos 80 anos da emissora. Como foi mergulhar nessas histórias? 

O primeiro livro publicado pelo Governo do Estado em 2002 reúne 67 fotografias e dezenas de depoimentos/entrevistas com radialistas, jornalistas, e pessoas de outros segmentos que tiveram ou têm uma trajetória na Rádio Tabajara. Até hoje é fonte de pesquisa, sobretudo para estudantes das faculdades de comunicação em nosso Estado.

Em setembro de 2016 tomei a iniciativa de organizar uma segunda coletânea ampliada. A obra tem 199 fotografias e mais de 70 depoimentos. Ilustro a coletânea com 141 fotografias. Gente de várias gerações. Dos anos 1930 aos dias atuais. Com esta obra estou, junto com dezenas de personagens, colaborando com um registro histórico/cultural da antiga PRI-4, nossa Rádio Tabajara, verdadeiramente um patrimônio dos paraibanos. 

Foi fascinante vivenciar esse novo projeto, agora também como editor. A partir deste livro estou inscrito no ISBN (International Standard Book Number) o sistema numérico adotado internacionalmente para a identificação de livros. Entrevistei pessoas que não estão no primeiro livro e encontrei novas fotografias.

O Jornalismo paraibano tem memórias suficientes registradas pelos profissionais da comunicação?

Acredito que ainda não. Diversos jornalistas têm livros publicados abordando temas variados, a exemplo de Gonzaga Rodrigues, Biu Ramos, dentre outros nomes da imprensa paraibana, mas alguém precisa escrever as memórias dos antigos jornais O Norte, Diário da Borborema, extintos há alguns anos pelos Diários Associados. O próprio Jornal A União carece de uma coletânea e existe muita gente que passou pelo jornal que completou em fevereiro desse ano 124 anos. Existem publicações sobre A União, porém, por sua grandiosidade, cabe um livro de memórias mais abrangente. Gostaria que alguns jornalistas veteranos do jornal escola publicassem essa obra. Por lá passei alguns anos e se me convidarem, contribuirei com a pesquisa.

Uma contribuição muito boa nos dá o amigo Gilson Souto Maior que lançou em 2015 o livro “Rádio História e Radiojornalismo”. Gilson lança outra pesquisa importante, “História da Televisão na Paraíba”. Ainda farei uma pesquisa sobre os jornalistas paraibanos que escreveram ou organizaram livros. Creio que o jornalista que lança um ou mais livros acaba registrando sua trajetória na profissão, um legado para o jornalismo e para seus filhos, netos. De alguma forma um prêmio para o profissional que para sobreviver se desdobra em dois ou mais empregos, fora assessorias.

Lançamento do livro “Paraíba: Governos em Cena”. Foto: Divulgação

“Paraíba: Governos em Cena” é um outro livro seu. Como foi escolher as fotografias e (re) contar uma história através delas?

Esse livro na verdade tem como autores os repórteres fotográficos da imprensa oficial do Estado da Paraíba, que imortalizaram com seus cliques cenas da história político-administrativa de nosso Estado. Foi lançado em novembro de 2016 no Palácio da Redenção e está nas livrarias. A obra reúne mais de 100 fotografias de governadores dos anos 1930 a 2016. Além de homenagear os fotógrafos palacianos, de certa forma resgata parte da história da Paraíba.

Creio que contribui com a memória dos governos paraibanos e valorizem o trabalho dos fotógrafos. Na condição de repórter do Governo da Paraíba há 28 anos tive a ideia de selecionar entre 3.000 fotos as que estão no livro. Para isto, tive a ajuda fundamental do fotógrafo Silva, hoje aposentado. Ele era até o ano passado o guardião do acervo fotográfico do Palácio da Redenção. Milhares de fotografias reveladas e negativos guardados em envelopes amarelados pelo tempo. Ainda sobre governos paraibanos, o renomado jornalista Nonato Guedes escreveu o livro A Fala do Poder. Uma excelente obra baseada nos discursos de posse de vários governadores paraibanos.

Josélio Carneiro na Biblioteca de José Américo na FCJA. Foto: Reprodução

Na juventude venceu concursos de poesia na antiga Escola Técnica Federal da Paraíba. O jornalista ainda consegue colocar arte nas palavras no trabalho diário?

Na adolescência e juventude escrevi poesia. Ainda tenho poemas não publicados e penso lançar um livro com esse material. Tenho até um título: Nós, os poetas.

Trabalhou durante muitos anos na Rádio Tabajara. Como descobriu o rádio?

Ingressei na Tabajara aos 2 de janeiro de 1989 como estagiário, pois cursava jornalismo na Universidade Federal da Paraíba. Fiquei na emissora apenas seis anos. Em 1995 fui nomeado pelo então secretário Walter Santos para a coordenação de radiojornalismo da antiga Coordenadoria de Comunicação Social do Governo Mariz/Maranhão. E até hoje permaneço lá à disposição, na função de repórter, pois continuo repórter da Rádio Tabajara e lá se vão 28 anos.

O gosto pelo rádio veio ainda na infância ouvindo a Tabajara lá em Nova Cruz, no Rio Grande do Norte, onde morava. Quando estava no estágio, voluntariamente, passei a noite na redação da emissora. Fiz flashes na noite e madrugada sobre a Guerra do Golfo Pérsico, conflito entre o Iraque e Forças de Coalizão sob a liderança dos Estados Unidos. 

Na sua trajetória, qual foi o momento mais marcante ou mais significativo na cobertura dos governos no estado?

Pretendo escrever nos meus 30 anos de jornalismo o livro Memórias de um Repórter. Farei uma síntese das andanças por essa Paraíba a partir de 1995 através da Secom-PB. Conheci todos os 223 municípios, entrevistei pessoas simples sobre benefícios entregues pelos governadores. Tenho sido testemunha do desenvolvimento da Paraíba nos últimos 22 anos com os governadores inaugurando obras hídricas, estradas, escolas, hospitais.  Percebo a emoção de anônimos paraibanos nos rincões da Paraíba ao abrir uma torneira e banhar o rosto com água tratada depois de uma vida inteira bebendo água de cacimba. Um dos maiores benefícios são as rodovias pavimentadas, simboliza o progresso. As pessoas dão adeus aos buracos, a poeira, a lama nas estradas de terra. São muitos os momentos que marcam o olhar desse repórter testemunha ocular de lágrimas e sorrisos de paraibanos humildes.

O jornalista no açude Videl, em Cacimba Nova, na comunidade rural de Conceição, Sertão Paraibano. Foto de Alberi Pontes

Você se considera um cronista da história dos governos paraibano?

Não, não sou um cronista. Sou apenas um repórter curioso fascinado em ler memórias, documentários e dessa forma começando a colaborar com alguns livros nessa área, isto em parceria com muita gente. E sempre atuei na imprensa oficial do Estado. Desde 2015 estou repórter na Assembleia Legislativa.  Não sou escritor, apenas organizador, editor. Enfim, um repórter.

Estou com uma plaquete finalizada sobre ex-alunos do Liceu Paraibano, personalidades que se tornaram figuras públicas a exemplo de Celso Furtado, Augusto dos Anjos, Elba Ramalho, além de diversos governadores. 

Atualmente estou iniciando um livro sobre as leis elaboradas pelas deputadas estaduais. Até aqui são mais de 120 leis e 24 mulheres deputadas. Planejo lançar até dezembro deste ano. Mostrarei a contribuição das deputadas ao povo paraibano, a partir de 1982 com a primeira mulher eleita deputada estadual, Vani Braga. Essa será minha próxima reportagem transformada em livro.

Serviço

Sessão Especial em Homenagem aos 124 anos do Jornal A União e Lançamento do livro Rádio Tabajara – Patrimônio Cultural da Paraíba

Dia: 12 de junho (segunda-feira),

Horário: 13h30

Local: Plenário Deputado José Mariz Assembleia Legislativa da Paraíba.


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias

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