Poema de escritor paraibano integra livro de antologia portuguesa

Um poema do escritor paraibano Linaldo Guedes foi selecionado por uma editora de Portugal para integrar o segundo volume da antologia de poesia brasileira contemporânea “Além da Terra Além do Céu”. Os versos de “Entre o rio e o mar” foram os escolhidos para compor a publicação, originalmente lançado no livro “Metáforas para um duelo no sertão”, em 2012.

O poeta é o único paraibano a participar da obra que reúne escritores de todo país. Em conversa com o Conexão Boas Notícias, Linaldo Guedes falou sobre sua trajetória artística, sua poesia, inspiração e o que representa mais esse trabalho na sua carreira de escritor.

“Tudo isso é fruto de muito trabalho, muita paciência e muito aprendizado, acima de tudo. Nada vem de graça ou do dia para a noite. Neste 2017 estou fazendo 27 anos de atividades literárias. A participação nesta antologia é mais um passo nessa trajetória”,  enfatizou Linaldo.

A segunda edição de Além da Terra Além do Céu conta com mais de 700 textos. A própria Editora Chiado, organizadora do livro, convidou os autores a enviarem poemas para apreciação.

Com tantos poemas já escritos em livros seus e em parceiras, a escolha de Entre o rio e o mar partiu da afinidade de Linaldo Guedes. “É um poema que define bastante meu eu-lírico, sempre dividido entre a razão e a emoção”, revelou.

A publicação da editora especializada em obras de autores portugueses e brasileiros será lançada no dia 7 de maio, em São Paulo, no Teatro Gazeta, na Avenida Paulista. Entre as demais apresentações agendadas estão a Feira do Livro de Lisboa, em junho, e a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em agosto, nas quais o poeta planeja participar.

O primeiro volume da antologia foi publicado em 2015, reunindo 280 poemas escritos em língua portuguesa por autores nascidos no estado de São Paulo.

A poesia

Foto: Arquivo Pessoal

O poema Entre o rio e o mar é marcado por referências conhecidas dos leitores. “Numa estrofe, utilizo o poeta João Cabral de Melo Neto como alegoria para falar da razão: aquela coisa seca e ácida do sertão. Na segunda estrofe, utilizo o poeta Vinicius de Moraes para falar da emoção, onde os versos falam de elegias e sempre de um grande amor”, explicou o poeta.

O primeiro livro de Linaldo Guedes foi lançado em 1998 com o título Os zumbis também escutam blues e outros poemas. Ainda publicou mais três obras de poesia, Intervalo Lírico, Metáforas para um duelo no sertão e Tara e outros otimismos, sem contar a participação em trabalhos de outros autores.

Escrever versos como os que integram a antologia requer atenção e estudo. A costura entre temáticas, palavras e ritmo surge a partir desses ingredientes. “A inspiração vem do cotidiano, do que vejo, observo, sinto e vivo. A inspiração vem da própria poesia e muitas vezes vem de leituras que faço. Na poesia a linguagem é tudo, como falo em um dos meus livros”, destacou.

A crítica

O livro Metáforas para um duelo no Sertão traz 106 poemas do autor e tem prefácio do poeta e escritor Antônio Mariano. Entre o rio e o mar é o poema que inicia a obra.

Tanto o livro como o autor foram elogiados pelo trabalho. “Tem vida, nome, história, algo que é raro de se ver hoje em dia em tempos de poesia metalinguística”, afirmou o escritor Astier Basílio.

O escritor Wander Shirukaya ressaltou a variedade poética do livro composta de pequenas narrativas e de retratos da solidão. “Para tanto, a imagem do sertão é o foco principal. A impressão que se tem em muitos momentos é a de liberdade, mas uma liberdade conquistada a duras penas, soando serena no que se abre a quem lê, como em “Pote de ouro”: no fim do arco-íris / o olhar do vaqueiro / em preto e branco”, citou o autor.

O poeta 

Linaldo Guedes nasceu em Cajazeiras, em 1968. É formado em Comunicação Social e atuou em jornais, rádios e revistas da Paraíba nas funções de repórter, editor, apresentador, produtor e coordenador.

O paraibano iniciou sua vida literária aos 21 anos de idade. Criou, no início dos anos de 1990, junto com os poetas Alexandre Palitot, Fábio Albuquerque e Wilton Júnior, o Grupo Poecodebar, que se apresentava em bares e circuitos alternativos encenando poemas autorais. Entre 2005 e 2006, esteve à frente do projeto LiterArte Musical, no qual eram realizadas apresentações artísticas e homenagens a escritores.

Ganhou diversos prêmios, entre eles o de destaque literário, concedidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, em 1999 e 2000 e a Medalha do Mérito Cultural, concedida pela Fundação Casa de José Américo, em 2006.

                                             Entre o rio e o mar

tem semanas que acordo janeiro
versos feitos cabral
seco ácido sertão
lâmina e pedra na poesia
galo escondendo a manhã
dias em que custam suores
recordar outros valores
lembrar dos asfaltos de jambeiros
andar pelas ruas, jaguaribe
: há que sempre mirar adiante
nadar nada no capibaribe
colhendo feijão e poemas
lá na cozinha da casa grande tão pequena

 tem semanas que me fixo em junhos
versos vêm de vinícius
solto louco sezão
sonetos infiéis em minha castidade
elegias e sempre um grande amor
dias que valem suores
vale o hoje, o agora, vale o já
cajazeiras é só uma página e saudades 
outras ruas outros olhos outras cores
madalenas e seus códigos secretos
mergulha poesia tambaú
– plantar sonhos e fantasias
no quarto, onde deve ficar minha pequena
tem semanas e dias dezembros
onde espero, só nos livros
: é natal, temos que recomeçar.

(Publicado no livro “Metáforas para um duelo no sertão”, Editora Patuá, 2012)


Por Marcella Machado, da redação do Conexão Boas Notícias

2 thoughts on “Poema de escritor paraibano integra livro de antologia portuguesa

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.