Polvos de crochê em incubadoras ajudam a acalmar bebês prematuros

A vida de um bebê prematuro não é fácil. O nascimento antes do tempo implica em muitas coisas, e uma delas é a insegurança para os pais. Ao olharmos para aquele tamanhinho de gente, logo pensamos o quanto eles têm que sentir-se bem e confortável, aqui fora.

Foi pensando nos bebês prematuros que necessitam de um tratamento especial, que uma maternidade de Curitiba (PR) começou uma forma carinhosa de cuidar dos bebês, eles colocam povos de crochê para os nenéns que estão internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal.

Foto: Reprodução

A ideia surgiu na Dinamarca, no ano de 2013, através de um grupo de voluntários que doava os polvos em unidades neonatais do País e da Groenlândia, além de ter ajudado a reproduzir o projeto na Suécia, Noruega, Islândia, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Itália, Turquia, Croácia, Israel, Palestina, Austrália e Estados Unidos.

O grupo dinamarquês,  Spruttegruppen que criou o projeto, denominou de “Octo Project”. Ou (“Projeto Polvo”, em tradução livre).

A iniciativa tem ganhado a adesão dos brasileiros. Os polvos feitos de lã com tentáculos em espiral, ficam juntinhos dos recém-nascidos, as fotos cheias de beleza e mimo multiplicam-se nas redes sociais.

O Site oficial que divulga a iniciativa explica que os tentáculos do objeto se assemelham ao cordão umbilical, fazendo os prematuros lembrarem do período em que estavam no útero.

Foto: Reprodução

Denise Leão Suguitani, diretora da ONG Prematuridade (Associação Brasileira da Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros) enfatiza: “Vimos que essas fotos começaram a viralizar no início deste ano e resolvemos encabeçar isso no Brasil, porque tem se mostrado benéfico para os bebês. Segurar algo que se assemelha ao cordão umbilical parece acalmar os prematuros: ajuda a estabilizar os batimentos cardíacos, a respiração. E é uma coisa muito simples de se fazer”.

A ONG que luta pelo bem-estar dos bebês nascidos prematuramente, criou a versão brasileira do projeto, batizada de “Um Polvo de Amor

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A Maternidade de Curitiba quando aderiu a ideia, passou a colocar polvos de crochês nas incubadoras dos recém-nascidos prematuros.

De acordo com os relatos médicos, utilizar os polvos tem efeito positivo na situação clínica dos bebês. O médico Rubens Kliemann declara que esse tipo de humanização é muito importante. “É como se a criança pegasse no cordão umbilical, o que faz com que ela se sinta dentro do útero materno. Assim, acaba tendo menos consequências e indo embora mais certo”.

A coordenadora da UTI Neonatal, Ana Bruna Sales, destacou que os bebês se sentem muito mais seguros ao lado dos polvos de crochê: “Foi observado que os bebês ficaram mais calmos. Eles conseguiram respirar melhor, tiveram os batimentos cardíacos mais estáveis e puderam se recuperar de uma forma mais tranquila”.

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Mãos à obra

O ateliê da designer gráfica Dani Dalledone, que fica localizado em Curitiba (PR), produz voluntariamente os polvos de crochês.

Antes de ir para as incubadoras, eles são esterilizados. “Vi na internet uma reportagem sobre o projeto na Dinamarca. Aí, uma conhecida teve um bebê prematuro em São Paulo e eu pensei que podia ajudar de alguma forma. Então, fiz o primeiro polvinho”, diz.

Dani argumenta ainda:  “Estou recrutando todo mundo que conheço para fazer os polvos de crochê. Abri espaço no ateliê para ensinar quem quiser fazer parte do projeto”.

O material utilizado na confecção dos polvos é proveniente de doações, e a mão de obra também é voluntária.

Foto: Reprodução

Elizabete dos Santos teve a experiência de ter um bebê prematuro na família e isto fez com que sentisse mais desejo de participar da iniciativa.  “Meu sobrinho nasceu de quase sete meses e ficou na UTI por três meses e meio”, recorda.

Segundo ela, foram dias muito difíceis. “Eu me empolguei com o projeto porque vivenciei o dia a dia dele. Com os polvos, os bebês ficam mais calmos, tranquilos, acabam se distraindo”.

Elisabete é a responsável por entrar em contato com os hospitais. “O pessoal tem se empolgado muito. Todos os hospitais querem”.

Além de Curitiba, hospitais de outras cidades do Paraná, como Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná; Londrina, no norte do estado; e também Guarapuava, na região central, também aderiram aos polvos de crochê.

Cuidado e atenção

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Uma das mães que experimentou a novidade a empresária Kika Duarte, mãe de um bebê que nasceu com 27 semanas, considerado prematuro extremo, argumentou:

“Ele está na UTI há dois meses e agora que está começando a melhorar e interagir. E toda hora ele puxava a sonda, arrancava o cateter. Uma enfermeira me explicou que dentro do útero, os bebês costumam puxar o cordão umbilical. Então, depois de nascer ele puxa mesmo qualquer fio que encontra, por instinto”.

A atitude instintiva pode causar problemas quando o bebê está na UTI.

“Eles arrancam tudo e ficar passando cateter e sonda toda hora é muito difícil para o bebê, porque ele ainda é muito delicado. Posso dizer que agora meu filho não tem arrancado mais os fios, como fazia. Acredito que o polvo tenha ajudado bastante. Os bebês ficam mais tranquilos segurando os tentáculos”, diz a empresária.

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Alguns médicos não veem a novidade com bons olhos.

“A princípio, tive um pouco de resistência do hospital, mas encontrei uma médica que é adepta a novas formas de tentar acalmar os bebês e pude levar o polvo”. Destaca Kika.

“Algumas enfermeiras não curtem, por ser meio de cultura de bactérias. Chegam a tirar da incubadora. Meu filho não fica o tempo inteiro com o polvo, depende do plantão, mas eu até entendo o hospital”. Diz.

Denise Leão espera poder rebater as críticas com dados científicos. “Várias pessoas criticam, dizendo que podem trazer infecção, e ainda não há nenhum estudo científico. Estamos recomendando aos hospitais que já estão ou que querem entrar no projeto que comecem a documentar todo o passo a passo da intervenção, para a gente poder ter embasamento, fazer algo baseado em evidências”.

A posposta é manter o projeto original, que os polvinhos não sejam comercializados, mas sim feitos e distribuídos de forma voluntária.

Um trabalho voluntário. Foto: Reprodução

A mesma recomendação é adotada pela versão brasileira da iniciativa. A diretora da Prematuridade conta que tem sido procurada por hospitais que querem implementar e pessoas que querem fazer o crochê. “Como não temos braços para conectar diretamente as pessoas, disponibilizamos uma lista de receptores e outra de doadores no site, onde as pessoas podem se achar, na sua cidade ou na cidade mais próxima. Tem dado bem certo”. As voluntárias já cadastradas são quase 50, de 14 diferentes Estados.

O site também se preocupa em orientar a como fazer o polvo corretamente, até com um passo a passo disponibilizado online. “O tentáculo não pode ser muito comprido, porque pode oferecer risco ao bebê, e o ideal é usar linha 100% algodão, porque ela resiste a altas temperaturas”, expica Denise.

Foto. Reprodução

 Serviço

Quem estiver interessado em fazer parte do projeto pode enviar um e-mail para thm.dani@gmail.com ou entrar em contato com a Loja Armarinho Criativo Micapullo pelo telefone (41) 3018-9127.

Foto: Reprodução

O Ministério da Saúde não recomenda uso de polvos de crochê em incubadoras.

O governo federal classifica os polvos do projeto Octo como um “brinquedo”, e nega que a semelhança dos tentáculos com o cordão umbilical seja suficiente para despertar algum conforto extra ao bebê.

Segundo a nota técnica, qualquer brinquedo do tipo – “girafas, sapos, ursos, bonecos, carros” – geraria o mesmo benefício, “desde que respeitadas as normas e protocolos de controle de infecção hospitalar de cada unidade”.

O voluntariado persiste – Veja  mais fotos:

Voluntárias. Foto: Reprodução
Voluntárias. Foto: Reprodução
Bebê prematuro. Brasília (DF) Brasil. Foto: Agência Brasília

Com informações: G1 / Vol / A Gazeta News

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