Substância da picada da formiga é transformada em combustível para ônibus

Uma forma de armazenar energia que pode ser mais barata, mais prática e mais sustentável que os combustíveis renováveis existentes, foi desenvolvida por um grupo de estudantes da Holanda.

O ácido fórmico, encontrado na natureza em formigas e outros insetos, que o usam em suas picadas. Ou por plantas como a urtiga, estão sendo utilizados no experimento. “Criamos o primeiro ônibus no mundo que usa o ácido fórmico como combustível – uma solução muito mais barata do que o hidrogênio gasoso e que traz os mesmos benefícios ambientais”, explicou Lucas van Cappellen, da Team Fast, empresa derivada da Universidade de Tecnologia de Eindhoven.

“Estamos construindo um novo futuro.”

Team Fast em frente ao protótipo do ônibus que usa ácido fórmico para se mover. Foto: Reprodução

Cerca de 40 de estudantes trabalham no projeto de um novo meio de transporte que reduza emissões de carbono e ajude no combate ao aquecimento global.

O ácido já é usado em processamentos têxteis e de couro, em conservantes de alimentos para animais e em removedores domésticos.

Segundo Lucas van Cappellen, a Team Fast encontrou agora uma forma de fazer o ácido transportar de maneira eficiente os ingredientes necessários para células de combustível usadas para alimentar veículos elétricos.

Substância da picada da formiga é transformada em combustível para ônibus. Foto: Reprodução

O combustível, que a equipe chamou de hidrozina (não confundir com hidrazina), é um líquido, o que o tornaria de fácil transporte e abastecimento, como os combustíveis tradicionais. A diferença é que ele é muito mais limpo.

“As emissões do escapamento são apenas CO2 e água”, salientou Van Cappellen. “Não são emitidos outros gases nocivos como óxido nítrico, fuligem ou óxidos sulfúricos”.

Ainda este ano o conceito será testado no mundo real. Um ônibus elétrico abastecido com esse tipo de combustível sairá às ruas da Holanda, fazendo rotas tradicionais e aparecendo em feiras e eventos tradicionais da indústria.

Essa parte será acoplada do lado de trás do ônibus com o tanque de hidrozina. Foto: Reprodução

O ônibus tem um sistema elétrico de direção, desenvolvido pela fabricante de ônibus VDL, que recebe energia adicional do sistema de células de combustível de ácido fórmico montado em uma extensão na parte de trás do veículo.

Van Cappellen, argumentou: “Nosso tanque tem cerca de 300 litros, então vamos estender a capacidade de rodagem do ônibus em 200km. E é claro que a gente poderia fazer um tanque maior muito facilmente”.

As células de combustível de hidrogênio que existem hoje em dia têm uma capacidade de rodagem de 400km.

Desenvolver um ônibus em vez de um carro?

A Team Fast testou seu conceito em um carro modelo de 1 metro de comprimento em janeiro de 2016. Foto: Reprodução

“Se construíssemos um carro, iríamos competir com carros elétricos. Mas acreditem, carros movidos a bateria são uma ótima solução para muitas pessoas”, disse Van Cappellen.

“Mas se nós provarmos que podemos fazer um ônibus que supre todas as necessidades das empresas de ônibus, com capacidade de rodar centenas de quilômetros, e de rápido abastecimento, nós mostraremos o potencial da hidrozina em um segmento em que não há nenhuma opção sustentável na concorrência.”

A hidrozina é criada por meio de uma reação química entre água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). “Em um reator, água e CO2 são ligados usando uma eletricidade sustentável. Isso é um processo eletroquímico direto e sustentável”, apontou o estudante.

A hidrozina é, então, quebrada por um catalisador em hidrogênio e dióxido de carbono dentro de um aparelho kit chamado reformador, que o Team Fast está tentando patentear.

Novo combustível é mais barato que o hidrogênio líquido. Foto: Reprodução

Segundo os estudantes, o reformador recém-projetado é um décimo do tamanho dos aparelhos deste tipo existentes, e por isso agora é aplicável em equipamentos de transporte pela primeira vez.

O hidrogênio é, então, colocado em uma célula de combustível onde reage com o oxigênio para gerar a eletricidade que ativa o motor elétrico.

“Nós estamos constantemente buscando novas tecnologias que possam conseguir o objetivo de emissões zero de uma forma mais simples”, esclareceu Menno Kleingeld, diretor administrativo da VDL Enabling Transport Solutions.

“A decomposição do ácido fórmico em gás hidrogênio é uma dessas novas e promissoras tecnologias.”

Uma solução comercialmente viável?

“Custa cerca de 35 mil euros (R$ 127 mil) para converter um posto de petróleo tradicional em um posto de abastecimento de hidrozina, um procedimento que envolve essencialmente substituir os tubos e revestir os tanques”, afirmou Van Cappellen.

Desta forma, “100 vezes mais barato” lançar uma rede de abastecimento de hidrazina do que para fazer o mesmo com hidrogênio gasoso, ele assegurou.

“A hidrozina é atualmente mais barata que o petróleo e mais cara que o díesel na Holanda, mas no futuro ficará mais barata do que os dois”, acrescentou.

Apesar de o ônibus ainda emitir CO2, a Team Fast enfatiza que o CO2 original usado para criar a hidrozina é tirado de fontes já existentes, como fumaça de escape, para que nenhum dióxido de carbono adicional seja produzido, o que seria um ciclo de carbono fechado, no jargão.

Para alguns especialistas a tecnologia é promissora.

“A Team Fast tem um projeto muito bom”, expôs Richard van de Sanden, chefe do Instituto Holandês de Pesquisa Energética Fundamental.

“Eles trabalham em uma questão bastante importante: o armazenamento de energia renovável em uma forma que ela realmente pode ser usada.”

Muitas empresas estão apoiando o projeto. “O que nós estamos trabalhando juntos é uma versão de energia renovável que pode combinar energia renovável com a captura de CO2”, assegurou Martiijn de Graaf, gerente de desenvolvimento de negócios na TNO Industry.

“Se conseguirmos, isso vai nos dar um futuro mais estável.”

O próprio compromisso dos alunos é impressionante, com 15 dos 40 trabalhando em tempo integral no projeto, e o resto contribuindo pelo menos 20-25 horas por semana.

“Nós não recebemos nota mais alta por isso, mas você pode aprender muito na universidade sobre a experiência prática das coisas”, conclui Van Cappellen.

Com informações: BBC Brasil /  Terra

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