População volta a ocupar espaços públicos nas cidades

O asfalto e a calçada onde motoristas e pedestres circulam automaticamente todos os dias ganham status de área de lazer e de ponto de encontro para diversão nos fins de semana. Nas ruas, praças, jardins, museus e restaurantes a ordem é ocupar.

Uma pesquisa mostrou que os espaços públicos das principais metrópoles da América Latina estão sendo reconquistados pela população. Os motivos são os mais variados, seja para encontrar amigos, protestar, se divertir ou mesmo trabalhar.

O estudo é da agência global de relações públicas Edelman Significa. Foram analisados os estilos de vida de moradores de São Paulo, Buenos Aires, Bogotá e Cidade do México. Segundo o relatório da ONU-Habitat, quase 80% da população da América Latina vive em áreas urbanas.

A interdição de avenidas para carros e liberação delas para lazer, as ciclovias, a multiplicação gastronômica dos food trucks, a revitalização de praças, centros e museus têm sido as formas de ingresso para essa onda de retomada dos espaços públicos.

Metrópoles redescobertas

Intervenção cultural Plaza Movil, em Buenos Aires, Argentina. Foto: Pop Up City

O diretor de Pesquisa e Conhecimento na Edelman Significa, Rodolfo Araújo, explicou o que vem ocorrendo nas metrópoles. “Curiosamente é a manifestação física de um fenômeno iniciado pelo ambiente digital: a maior conexão entre pessoas. Ela contribui para a disseminação de grandes causas, como a mobilidade urbana e as questões de gênero, por exemplo. Os indivíduos sentem a necessidade de se encontrarem na vida real para concretizar os debates iniciados virtualmente. E assim a cidade torna-se a plataforma de expressões políticas, artísticas, comportamentais e sociais”.

O turismo interno e a identidade dos espaços urbanos são desenvolvidos com o redescobrir da cidade pelos seus habitantes. É o que acontece na Cidade do México com a revitalização dos bairros e no movimento da agitada Bogotá. Em Buenos Aires, o coworking, uma nova forma de pensar o ambiente de trabalho, ganhou as ruas. Essa estratégia empreendedora busca ambientes inspiradores e democráticos, nos quais haja autonomia e muito networking, uma rede de conatos, com pessoas de diversas áreas.

Avenidas livres para lazer

Domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, Brasil. Foto: Heloisa Ballarini SECOM-PMSP

As restrições no trânsito são uma das medidas aprovadas na Nova Agenda Urbana, um documento que deve orientar a urbanização sustentável pelos próximos 20 anos, adotada em outubro de 2016, por diversos líderes mundiais.

A proposta é limitar a circulação de veículos em dias e horários determinados em ruas e avenidas. No Brasil, um dos exemplos é a Avenida Paulista. Durante os fins de semana, a via se transforma em pista para prática de esportes, piqueniques e palco de intervenções artísticas.

Ações como essa buscam devolver o acesso a ambientes mais saudáveis, seguros, culturais e democráticos. Para uma cidade ser considerada bem planejada, de acordo com a ONU-Habitat, deve ter 50% de área construída e 50% de espaços públicos e áreas verdes. Fatores como esse contribuem para a atrair pessoas aos lugares que formam a paisagem das cidades.

Diversão e luta

O Paseo de la Reforma, na Cidade do México. Foto: Reforma

As praças e ruas também têm voltado ao protagonismo na vida política da sociedade. “A cidade tem sido redescoberta como ponto de encontro das manifestações de diferentes correntes ideológicas e de pensamento. Ela é o palco, a arena em que os interesses convergem e divergem. Todos estão em busca da visibilidade. Uma vez nas ruas, podem ser encontrados e têm chance de verem suas expressões registradas e disseminadas nas grandes redes e veículos”, afirmou o diretor Rodolfo Araújo.

O desafio de criar ambientes estruturados e sustentáveis onde o coletivo e o individual convivem com as diferenças é o grande desafio do direito à cidade. A socialização através dos espaços públicos possibilita a interação entre as pessoas, o encontro com a diversidade e a expressão artística. É a oportunidade de olhar, respirar e sentir o pulsar do lugar no qual se vive sem a pressa das obrigações cotidianas.

Com informações: Veja / Terra / Coworking Brasil / ONU Habitat

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